Por Luciano Vicenzi. Quando aplico programas de desenvolvimento gerencial, minha definição de liderança é bastante simples: líder é a pessoa responsável por encontrar soluções, produzir resultados e desenvolver pessoas. Entretanto, gosto de destacar que a ideia mais desafiadora dessa definição é “responsável”. A maioria das pessoas foge de responsabilidade, prefere transferir para alguém ou algum fator externo, principalmente quando as coisas não vão bem.
Nas organizações, quando há perdas de receitas, clientes ou rentabilidade, há um ciclo que se repete com certa frequência composto de 3 momentos: no primeiro, a cúpula explica os resultados por um fator externo, o governo, o câmbio, uma crise em algum lugar. Quando o tempo passa e as coisas não mudam, surge o segundo momento, o problema está na execução, nas pessoas que não são comprometidas o suficiente. Após algumas ou muitas cabeças cortadas sem impactar no resultado, finalmente pode surgir o terceiro, a decisão de rever o modelo de negócios, a estrutura ou o foco. Às vezes, este último não acontece, ou acontece tarde demais.
Esse ciclo pode ocorrer da mesma forma em áreas ou departamentos de uma empresa. Por que isso acontece? Provavelmente porque é difícil para quem é bem-intencionado e já teve sucesso com um modelo, admitir a própria responsabilidade pela perda de resultados. Mas é exatamente o que um líder deveria fazer. Assumir com coragem a sua responsabilidade para mudar a forma de pensar e atualizar o mindset para uma nova perspectiva, pois sua forma de conduzir o trabalho de equipe está desconectada da realidade externa. O cenário muda e as cabeças precisam mudar também.
A melhor maneira de desenvolver a coragem, a ação com o coração, uma competência socioemocional muito importante na sociedade do desempenho, é desdramatizar a necessidade de parecer forte, admitir sua vulnerabilidade e seguir adiante ou começar tudo do zero se necessário for, mesmo com todo desconforto que a sensação de fragilidade nos traz. Muitas pessoas confundem o destemor, a ausência do medo, com a coragem, o ato de não se deixar paralisar pelos próprios medos. Só há sentido em se falar em coragem, se houver o medo.
Ter medo é uma reação natural do instinto de sobrevivência. Sempre que nos sentirmos ameaçados de alguma forma, física ou emocionalmente, vamos sentir medo. Quem acredita que ao assumir seus medos perderá o valor perante os outros ainda não entendeu o que o termo “responsável” significa. Só há responsabilidade, de fato, se houver disposição de trazer para si a iniciativa de buscar alternativas para os desafios a serem enfrentados. Para isso, admitir seus medos e colocar-se em uma posição de vulnerabilidade é o primeiro passo para se arregaçar as mangas, envolver quem tiver que envolver, e correr atrás de um jeito de fazer melhor. Isso é responsabilidade!
Ceder ao medo, o oposto da coragem, pode levar a fuga, submissão, paralisia ou agressividade. Na fuga caio fora; na submissão me conformo com a situação; na paralisia me torno apático; e na agressividade transfiro a responsabilidade, colocando a culpa em terceiros, pressionando em demasia os outros, ameaçando com punições, utilizando a força para tentar exterminar aquilo que evidencia minha fragilidade, porque não quero ou não consigo lidar com ela naquele momento.
No mundo do trabalho do século XXI, caracterizado por ambientes mais horizontais, diferenças geracionais, diversidade cultural e de personalidades, esse modelo de fuga da responsabilidade fica, cada vez mais, sem espaço. Na sociedade do desempenho, onde os resultados dependem fundamentalmente da própria pessoa, o desenvolvimento da coragem como competência socioemocional para enfrentar novos desafios tornou-se premente. Sem ela a resiliência não se desenvolve, o posicionamento assertivo fica comprometido, a capacidade de tomar decisões em contextos incertos prejudicada, e a capacidade de recomeçar, ausente.
Assim como qualquer outra competência, desenvolvimento da coragem requer uma mudança de modelo mental. Os primeiros passos podem ser resumidos em 5 condutas:
Os desafios são sempre conjunturais, já a forma de enfrentá-los é uma escolha. “O oposto da coragem não é a covardia, é a conformidade. Até um peixe morto consegue seguir junto com o fluxo” (Jim Hightower).